Minha necessidade é viril
Sou cosmo em meio ao sofismo Universal
Sou carne sem caminho
Sou fruto sem pedaço
Assassinado em plena luta por tentar ser imortal
Sou o resto e sou o rastro do meu simplório altruísmo
Sou o trago da conversa
E sou o rasgo colorido sem hóstia ou eufemismo
Sou mal-estar após o culto
E semblante equilibrado entre o sorriso e o insulto
Sou a farpa e sou o gole
Sou o prato e sou o pobre
Sou o fraco e sou o forte
Sou a prata e sou o cobre
Sou o mito encabulado e sou retrato manuscrito
Não sou dono do meu corpo
Nem meu trono é brasileiro
Não tenho pátria e nem destino
Sou pro meu mundo o mundo inteiro
Sou ditador e libertário
Sou outono em plena primavera
Não tenho cor e nem vontade de pisar em solo solitário
Sou o choro do ego de um poeta
Sou forasteiro em território inimigo
Sou o circo e o escritório
Sou o cadáver de um algoz recém-nascido
Sou semente germinando e fruta-podre
Sou descontraído e contraditório
Sou amanhã um novo hoje
E hoje uma suave revolução
Sou palhaço engravatado
Empresário com nariz pintado
E louco por vocação
Sou um mero caboclo maluco
Um mameluco confuso
Sou mistura de cafuzo com confusão
Sou o pão mastigado que o diabo amassou
E o que Cristo repartiu
Sou o pão e o vinho
Sou dono do corpo onde tudo isso se multiplicou
Já fui crucificado e até morto por engano
Sou preso a tudo, mas não me prendo a nada
Não me agarro a nenhuma bandeira
Sou minha própria preza e meu mais novo plano
Sou pro meu instante uma eternidade inteira
Sou criança mamando, aranha na teia e sou liberdade
Sou um pouco de tudo no eterno universo do nada
Sou o inferno na terra e o céu da cidade
Sou o peso do mundo nas costas de Deus
Sou uma infância perdida no binóculo do tempo
Sou inocência partindo vestida de adeus
Sou pureza e malandragem
Sou lembrança
Mas só amanhã eu serei saudade
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